O principe de Benin que seduziu a elite gaúcha
Osuanlele Okizi Erupê, ou Custódio Joaquim de Almeida, como foi registrado no Brasil, nasceu no seio da família real de Benin em 1831. Ele era filho do obá (rei) Ovonramwen Nogbaisi e teria tido que fugir de Benin (atual Nigéria) devido à dominação pelo Império Britânico. Ao descobrir que não seriam capazes de manter o domínio em Benin sem o apoio da família real, os invasores negociaram com o rei e seus descendentes o seu apoio e sua partida em troca de uma pensão mensal, que seria paga até o final de suas vidas.
Ainda jovem, Osuanlele foi educado como príncipe herdeiro de um trono, tendo estudado em diversos países da Europa, tais como Inglaterra, França e Alemanha. Era extremamente culto e falava fluentemente inglês e francês. Durante o tempo da invasão britânica, ele foi responsável por organizar a resistência dos nativos à invasão. Porém, quando os britânicos realizaram um massacre, ele decidiu escapar. Ele já era um homem idoso quando, ao consultar o jogo de búzios em busca de uma solução para sua vida, resolveu mudar-se para o Brasil.
Ingressou no Brasil pelo porto da Bahia, em 1898, alguns anos após a abolição da escravatura. Vagou pelas cidades do norte do país durante algum tempo até que, novamente aconselhado pelos búzios, decidiu mudar-se para o Rio Grande do Sul.
Ele se instalou na capital gaúcha, em uma mansão espaçosa e confortável da Cidade Baixa. Este bairro, juntamente com o Menino Deus e a Azenha, situava-se na região de Porto Alegre para onde os negros tinham se mudado após a abolição da escravatura, constituindo diversos quilombos.
Lá o Príncipe Custódio, como era conhecido em Porto Alegre, vivia cercado de luxo: vestia-se de modo refinado, usava relógios de ouro e jóias de pedras preciosas e mantinha seus cavalos de corrida no Prado da Independência. Somente saía de casa confortavelmente instalado em seu landau atrelado a dois corcéis que, nos dias de sol, eram brancos, e nos dias de chuva, negros.
Tornou-se uma pessoa estimada pela alta sociedade gaúcha devido a sua rica bagagem cultural, seu refinamento, ao fato de ser curandeiro e de possuir o poder de prever o futuro, embora estes seus poderes fossem apenas compartilhados com o seu círculo mais íntimo de conhecidos. Ele era tido por todos como uma autoridade espiritual.
Pela sua casa circularam vários integrantes da elite local, tais como Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros e José Gomes Pinheiro Machado. Dizem que Júlio de Castilhos teria se aproximado dele em busca de cura para o seu câncer de garganta.
Devoto do orixá Ogum, ele tornou-se uma personalidade importante na luta junto às autoridades pela aceitação dos batuques, que então abundavam na capital gaúcha. Naquela época, os batuques, candombes, zungus ou reuniões de pretos, como eram conhecidos, precisavam de autorização policial para ocorrerem, pois estavam proibidos pelo código de posturas municipais. Porém eles prosseguiam noite à dentro de modo incógnito, principalmente em terrenos não-assoalhados, onde o arrastar pesado dos pés não atordoava a vizinhança.
Dizem que até a sua morte, aos 104 anos de idade, ele ia religiosamente todo o fim de mês ao consulado britânico receber a pensão que lhe possibilitou viver em grande estilo durante toda a sua vida. Porém, logo que morreu, sua casa foi invadida por bandidos que levaram todas as suas jóias e bens materiais de valor. Seus oito filhos, embora privados da pensão e das jóias, ainda viveriam bem graças a educação exemplar que receberam de seu pai.
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