O espírito de Vandinha
Vilarejo de Piódão, com suas casinhas de xisto
Não sei o que deu na cabeça do povo nestes meses de agosto/setembro. Nós somos ao menos 5 grupos de conhecidos que vieram passar as férias em Portugal. Nada foi combinado com antecedência, nós fomos descobrindo sobre os outros grupos aos poucos.
Mas o mais incrível de tudo, é que cada um encara um mesmo lugar de maneira totalmente diferente do outro. Eu e minhas duas amigas que estamos viajando juntas simplesmente amamos o Algarve. Nós três inclusive moraríamos lá de bom grado. Mas uma amiga da Perla, Vandinha, que passou por Algarve poucos dias depois de nós e fez os mesmos passeios postou várias observações no insta se lamentando. Ela tinha achado as praias todas iguais, a infraestrutura ruim, tudo caro, patati patatá…Realmente difícil de entender como alguém pode pensar assim tão diferente!
Antes dessa viagem começar, no período em que nos reuníamos pelo Zoom para decidir o que faríamos, discutimos muito se viríamos conhecer Piódão ou não, pois havia vários comentários no trip advisor e no booking falando sobre a dificuldade em percorrer as estradas que trazem ao vilarejo. Algumas pessoas diziam ter simplesmente decidido no meio do caminho desistir de sua estadia aqui em Piódão, pois as estradas eram perigosíssimas, estreitíssimas e eles tinham tido medo de despencar desfiladeiro abaixo.
Hoje pegamos o carro na locadora em Porto e, munidas de GPS, partimos para Piódão. O plano era não insistir muito se as estradas se mostrassem muito perigosas. Contudo fizemos o caminho todo e aqui chegamos na maior tranquilidade. E isso que nenhuma de nós é um ás na direção. Simplesmente não deu para entender no que se baseia todo aquele terrorismo presente nos comentários que vimos. Ainda bem, pois Piódão parece um presépio de tão linda, com suas casinhas de xisto encravadas na encosta de morros muito verdes.
Depois de almoçarmos uma salada de grão-de-bico com bacalhau acompanhada de uma taça de Mateus rosé, e penarmos um tempão para dividir a conta por três (!), saímos passeando entre as casinhas, em busca da igrejinha de São Pedro construída no século. XVI. O vilarejo tem cerca de 50 casinhas, duas igrejas e 30 almas que aqui habitam. Logo encontramos uma senhorinha que tomava sol sentadinha na praça e aproveitamos para perguntar o que ela achava de viver aqui. “Ih, é uma droga. Aqui só passa uma carrinha que vende pão e outra que vende legumes. Para comprar qualquer outra coisa tem de ir a Arganil”. Nós três, desanimadas com o comentário da senhorinha nos apressamos em nos despedir dela e seguir caminho. Mas logo depois, Maria Inês, que fala mais acordada do que já fala dormindo, achou outro morador da cidade que, este sim, amava viver aqui. Eu e Maria Inês partimos ladeira acima revigoradas, mas Perla, que detesta caminhar, fingiu examinar a parede de xisto de uma casinha e, assim como quem não quer nada, comentou “Este vilarejo deve estar cheio de escorpiões”. “Cruz-credo-Ave-Maria, Perla! Baixou o espírito da Vandinha?”