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Se você se preocupa em saber quais histórias são verdadeiras e quais são ficção, lembre-se de que a história muda conforme aquele que a conta, pois todas elas sempre carregam algo de verdadeiro e muito da fantasia do escritor. Afinal, neste mundo das redes sociais, mesmo quando pretendemos estar contando a verdade sobre nós, redigimos uma ficção.

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O açougueiro de Paris: a quem pertencem estas malas? (cap. 3)

Durante o período da ocupação alemã na França, a polícia fora chamada para descobrir a razão do mau-cheiro que emanava da chaminé de uma residência situada na rua le Sueur, no luxuoso bairro XVIèmede Paris. Ao arrombar a casa, ela acabou fazendo uma descoberta macabra. Em uma casa aparentemente vazia e de aspecto abandonado, havia 21 corpos desmembrados. Parte deles havia sido jogada em uma fossa e recoberta por cal, os demais restos mortais queimavam em uma fornalha. Após uma curta investigação, a polícia descobriu que aquela casa pertencia ao Dr. Petiot, que morava a apenas 3km dali. Porém, um bilhete afixado na porta da frente informava que o morador estava viajando e fornecia um endereço em Auxerre para onde as entregas e as correspondências deveriam ser enviadas.

as malas

A polícia decidiu ir a Auxerre para tentar encontrar o dr. Petiot. Porém antes disto, eles fariam uma paradinha em Villeneuve-sur-Yonne, onde o médico havia residido por vários anos antes de mudar-se para Paris. O que a polícia descobriu em Villeneuve deixaria todos os que haviam visto aquela cena macabra estarrecidos. O Dr. Petiot era na verdade um respeitável médico, estimado pelos habitantes da cidade. Ele costumava aceitar todos os doentes que lhe batiam à porta, mesmo os incuráveis, os drogados, os hipocondríacos e as mulheres desesperadas em busca de alguém que lhes fizesse um aborto. Inconformado com o elevado número de casos de febre tifoide na cidade, ele havia se candidatado à prefeito com a promessa de renovar a rede de esgotos, e com isto impedir a propagação da doença. Após ser eleito, ele se casou com Georgette, uma residente das cercanias, que pouco depois lhe deu um filho.

Em pouco tempo, porém, começaram a acusá-lo de apropriação indébita de bens públicos, bem como de realizar pequenos roubos de dinheiro e joias durante as consultas na casa de seus pacientes. A gota final acabou sendo a descoberta de que o Dr. Petiot havia feito uma ligação direta entre a rede de eletricidade e sua residência, consumindo energia elétrica sem pagar por ela. Ele acabou sendo condenado a pagar uma multa e foi destituído da sua posição de médico de família.

Uma investigação mais aprofundada mostrou que, quando jovem, Marcel Petiot havia se alistado voluntariamente para lutar na II WW, mas que sua história no exército havia sido um tanto conturbada: no hospital onde ele fora internado devido a ferimentos causados por estilhaços de granada, ele havia sido acusado de roubar cobertores, morfina e carteiras. Por essa razão, ele acabaria sendo preso e expulso do exército. Petiot foi então indicado para participar de um curso acelerado de medicina destinado aos veteranos de guerra, com duração de apenas 8 meses. Logo após, ele mudou-se para Villeneuve onde logo conquistou uma clientela.

Havia ainda suspeitas de que o médico consumia drogas e era psicologicamente instável, sendo considerado por um psicólogo como irresponsável por seus atos durante um julgamento por roubo de combustível.

Uma vez concluída a investigação realizada em Villeneuve, a polícia seguiu para Auxerre. Quando chegaram ao endereço informado no bilhete afixado à porta da mansão onde descobriram os corpos desmembrados, eles se depararam com uma outra casa luxuosa e imensa, porém abandonada. A família Petiot parecia ter o hábito de adquirir residências luxuosas e abandoná-las ao descaso.

Em Auxerre, a polícia encontrou as 60 malas que haviam sido removidas de caminhão da mansão na rua le Sueur e se pôs a investigar o seu conteúdo para determinar quem seriam os seus proprietários, porém todas as malas tinham algo em comum: não havia quaisquer documentos em seu interior, apenas roupas, artigos de toalete e fotos. Mas uma das maletas impressionou de modo especial os investigadores. Ela continha um pijaminha de criança feito à mão com pedaços de uma camisa social masculina já gasta. Neste pijama ainda podia ser visto o monograma de seu antigo proprietário: KK. Esta criança inocente seria mais uma das vítimas do Dr. Petiot?

A polícia descobriu ainda que, ao chegar a Paris, o Dr. Petiot tinha aberto uma clínica nas proximidades do l’Opéra, uma região lotada de turistas, prostitutas e foras da lei. Ao descobrir o passado criminoso do médico, a disponibilidade do médico para prescrever psicotrópicos e realizar abortos, sua nova clientela, ao invés de afastar-se, sentiu uma maior afinidade com ele. A clínica do Dr. Petiot passou a um fazer sucesso inesperado e seu patrimônio começou a crescer a olhos vistos.

A análise dos restos mortais das 21 vítimas encontradas na mansão da rua le Sueur também não levou a nenhuma identificação precisa, pois seus membros estavam muito degradados pela cal e pelo fogo. Os legistas repararam que nestes corpos o assassino havia utilizado o mesmo método empregado no desmembramento, destruição da face e escalpelamento de cadáveres recolhidos no Rio Sena. Somando todos os corpos, os assassinatos ultrapassavam a casa dos 60.

Para ler o capítulo final desta história, por favor clique aqui.

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Tags: rue le sueurVilleneuve-sur-Yonnemarcel petiot

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