Descubra-se, camaleão!
Viver é lutar para se des-cobrir. E essa luta é tanto mais dura, quanto mais distante da normalidade você se descobre. E, convenhamos, quem é normal? Após passar a infância e adolescência modelando a sua personalidade para atender as expectativas dos pais e mestres, você finalmente chega à idade adulta e, se der sorte, à independência financeira. Agora é a tão esperada hora de abrir as asas, não é? Mas daí vem a busca de um parceiro que te valorize, as exigências com relação à sua aparência e atitude no seu ambiente profissional, as expectativas do seu nicho nas redes sociais, a publicidade que dita gostos e sonhos... E você se perde mais uma vez. Se sente frustrada, insatisfeita, com suas energias drenadas, e nem sabe por quê. O seu dia a dia é tão desgastante, que você acaba se adaptando às expectativas alheias para ser amado e diminuir os atritos.
Ok. Depois de tanto esforço, você já pode dizer a si mesma que é amada e respeitada, ou pelo menos é isso que os que te cercam te fazem crer. Mas será que é você mesma que é amada, ou um avatar seu de baixa qualidade que anda por aí vivendo a sua vida? Difícil saber se você não fizer o esforço supremo de ignorar as expectativas alheias e descobrir afinal do que é que você gosta. E, não se engane, eu não estou falando de opções sexuais. Isso é uma partícula pequena do todo. Se descobrir é muito mais do que sair do armário.
Toda essa divagação foi despertada por uma matéria postada pela UOL em fevereiro de 2021 em que eu acabo de tropeçar por acaso, dois anos e meio depois da sua publicação. Fala de mulheres idosas tatuadas. Não, meu problema não é esse, adoro a minha pele do jeito que ela é, não desejo fazer tatuagens. Mas me pego admirando as mulheres retratadas na reportagem, que lutam contra as expectativas da sociedade e da família para assumirem a imagem e a vida de que gostam. Nesta reportagem há uma foto em especial que me desperta inveja. Nela, uma sexagenária de cabelo azul claro e pele toda tatuada mostra o dedo para o leitor da reportagem. “Fodam-se as suas regras, caro leitor”, ela parece dizer.
Essa foto me lembra de que na vida de todos nós há mais de uma oportunidade de descoberta e renascimento. Tradicionalmente, essas oportunidades ocorrem na adolescência e na aposentadoria, mas podem variar de uma pessoa para a outra. Eu me sinto como o australiano Max Peters que diz se arrepender amargamente de ter visto a onda do Bitcoin surgir e não ter aderido quando dava tempo. A minha onda da autodescoberta está passando lá fora na arrebentação, e eu tenho de nadar de braçada para alcançar esta onda, ou então vou passar o resto da vida tendo de me adequar às expectativas alheias. Mas enquanto eu não alcanço a onda, por favor esquece tudo o que eu disse e dá um like aí abaixo. Brincadeirinha...