Criar Memórias
Tem expressões que caem no gosto popular, e até a mais inteligente das pessoas começa a utilizar. A gente diz muita coisa sem pensar: dá beijo no coração (eca!), se enfeza, diz que é judiaria (mas jura que não tem preconceito), chama filha da puta de cachorro (eu amo o meu), etc. Mas nada está mais na moda do que esta obsessão atual por criar memórias.
Os pais se preocupam em sair com os filhos ou em reservar alguns minutos à noite para estar com eles, não porque isso seja prazeroso, mas porque eles estão preocupados em criar memórias nos seus filhos. Os pedidos de noivado têm de ser exóticos, instagramáveis, senão não tem graça. Os encontros com os amigos têm de ser registrados e divulgados com fotos impecáveis. Não basta viver a vida, tem de garantir a vida eterna na memória alheia.
Amiga, eu tenho duas tristes verdades pra te contar: as memórias não se criam artificialmente, nem são eternas.
As memórias se criam quando um acontecimento
provoca em você uma emoção, ou medo, ou dor. É uma questão bioquímica. Não
basta ser belo, nem instagramável. É preciso que o acontecimento seja importante para voce.
Um dia, mesmo as memórias mais fortes vão se dissolver. Isso começa cedo, na menopausa, com a baixa do estrogênio. As vezes não precisa nem tanto tempo. Você já olhou um álbum de fotos do passado e se deu conta de que não lembra mais acontecimentos que estão ali registrados, ou do nome daquele ex tão bonitinho mas sem graça? A memória é implacável, ela te dá a real dimensão da importância dos fatos e das pessoas na sua vida.
Por isso, esquece dessa baboseira de criar memórias e vai viver a vida com gosto.
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