Vida abissal
Barbara Sherwood Lollar é uma geoquímica que passou mais de três décadas coletando água que brotam das fraturas presentes nas paredes das minas subterrâneas que ela visitou no Canadá. Estas amostras de água ela posteriormente enviava para o laboratório de espectrometria de massa da Universidade de Oxford (UK) para datação, sendo que a idade das águas coletadas por ela nunca ultrapassou alguns milhões de anos.
Até que um dia Barbara visitou a mina de Kidd Creek, em Ontário, no Canadá, de onde são extraídos cobre e zinco. Para chegar às galerias mais profundas desta mina, ela pegou um elevador de dois andares que carrega até 140 mineiros ao interior da Terra a cada viagem. A viagem de elevador que leva às galerias situadas a quase 3000m de profundidade leva mais do que uma hora e transporta os viajantes a um ambiente completamente diferente daquele existente na superfície da Terra. Lá, as paredes rochosas são naturalmente mornas ao toque, devido ao gradiente geotermal da Terra. A rocha que hoje constitui as paredes destas galerias foi sedimento depositado no fundo do mar há 2,7 bilhões de anos atrás. Estas rochas constituem o chamado escudo cristalino Pré-Cambriano do Canadá.
Bárbara observou que das fraturas presentes na rocha brotava uma água extremamente salina e amarga. Sim, ela provou esta água, assim como ela tinha feito com todas as águas coletadas anteriormente. A água foi então enviada para análise no laboratório de espectrometria de massa. Os resultados, contudo, não vieram no prazo esperado. Impaciente, ela perguntou ao laboratorista o que estava acontecendo. Ele respondeu que o aparelho devia estar quebrado, pois os resultados eram surpreendentes. Após várias análises, reanálises e recalibrações do aparelho de espectrometria, o resultado foi finalmente entregue: a água coletada tinha em torno de 1,5 bilhão de anos! Isto a torna a água mais antiga já encontrada na Terra.
Mas o mais surpreendente é que nesta água foram encontrados micróbios chemolitroficos, que sobreviviam nestas grandes profundidades sem qualquer fonte de luz ou de matéria orgânica. Eles viviam às custas do hidrogênio e do sulfato presente na água, que serviam como alimento e fonte de energia para estes micróbios. A grande informação que esta água nos trouxe é que a vida não está restrita à superfície da Terra, podendo ser encontrada até 3000m de profundidade e em condições absolutamente inóspitas. Os cientistas agora acreditam que este caso pode nos ajudar a compreender como poderia haver vida abaixo da superfície de Marte. Vamos então aguardar pela comprovação desta teoria.
Para compreender como funciona a datação da água por espectrometria:
- A primeira etapa desta análise é a determinação da massa dos isótopos de neônio, argônio, xenônio e hélio dissolvidos n’água. Como a massa destes isótopos varia de acordo com uma taxa de decaimento radioativo bem conhecida, pode-se utilizar este método para datar as águas onde estes gases estão dissolvidos.
Voltar