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Se você se preocupa em saber quais histórias são verdadeiras e quais são ficção, lembre-se de que a história muda conforme aquele que a conta, pois todas elas sempre carregam algo de verdadeiro e muito da fantasia do escritor. Afinal, neste mundo das redes sociais, mesmo quando pretendemos estar contando a verdade sobre nós, redigimos uma ficção.

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Uma noitada no Clube Prime

Quando Alice desembarcou no aeroporto de Confins era sexta-feira à tarde. Ela vinha agarrada à sua mala de bordo e a uma caixa de papelão que continha o seu mais venerado tesouro. Aquele voo, estava lotado de empresários que voltavam para passar o fim de semana com suas famílias, carregando no rosto um sorriso pelos novos contratos fechados. Os bons tempos estavam de volta! Aqueles últimos anos, desde que a pandemia tinha arrastado a maior parte do mundo para uma recessão, tinham sido duros, mas agora as coisas estavam finalmente voltando ao normal. Alice tinha voltado a viajar à trabalho, e as verbas de representação que ela recebia eram excelentes. Desta vez, ela teria como se oferecer um fim de semana de primeira categoria, com festa no mais badalado clube de rubbers da capital mineira, o Clube Prime.

mergulhadores

Nada como a noção barroca de pecado incutida pelos padres em seus fiéis para criar uma sociedade libidinosa. As festas de BH eram muito loucas, algo nunca visto no Rio, onde Alice morava. Ela se dera conta de que nas cidades praianas, onde a sensualidade aflora naturalmente à beira-mar, onde os corpos seminus são expostos sem pudor, muito se falava sobre sexo, sobre perversões, sobre novas ondas, mas as pessoas se sentiam em seu íntimo entediadas e insensíveis.

Na educação religiosa de Minas Gerais, tudo parecia contribuir para a criação de almas sensuais.: o padre e seus sermões sempre presentes nas casas das famílias, as imagens de santos em lenta procissão de casa em casa, o olhar do Senhor onipresente e atento a todos, absolutamente todos os pecadilhos e maus pensamentos dos crentes. Helena, a melhor amiga de Alice, era um destes casos. Batizada e crismada, ela frequentava a igreja todos os domingos, onde comungava e se confessava. O que será que o padre lhe aconselhava? O que quer que fosse dito no confessionário não parecia impedi-la de continuar frequentando as festas do Clube Premium a cada quinze dias.

Naquela sexta-feira à tarde, após atravessar a cidade de Norte a Sul, Alice finalmente chegou ao novo apartamento de Helena, onde ela ficaria hospedada durante o fim de semana.

- Sua amiga mora longe, hem? Por que será que ela foi escolher um bairro tão distante? A saída para Nova Lima fica logo ali.  – o taxista comentou com Alice, enquanto lhe ajudava a desembarcar a sua mala e apontava com o queixo o cruzamento situado a 50 metros dali.

Helena fez uma pequena pausa no trabalho para recebê-la em seu apartamento, mas logo voltou para o seu consultório situado no mesmo prédio, onde ainda havia dois pacientes aguardando para serem atendidos. Alice resolveu então aproveitar aquele tempo livre para lavar as roupas novas que ela usaria no sábado à noite. Lentamente ela abriu a embalagem luxuosa que trouxera agarrada junto ao peito e que continha o seu maior sonho de consumo dos últimos anos: meias, cinta-liga e suspensórios da Atsuko Kudo além de luvas, corset, e adereço de pescoço, que haviam sido entregues pelo correio apenas dois dias antes. Tudo em látex, mas com detalhes que pareciam de renda. Embora tivessem custado uma pequena fortuna, ela não se arrependia, pois o conjunto era simplesmente magnífico! Mas, antes de mais nada, era preciso botar mãos à obra, lavar as peças para remover o talco e então dar polimento, deixando tudo tinindo para a noitada do dia seguinte.

A sensação de prazer provocada pelo contato de suas mãos com as peças de látex combinada ao cansaço acumulado na semana fez com que Alice entrasse lentamente em um estado de torpor. Em breve ela se via aos dez anos de idade, brincando solitária de boneca em um canto silencioso da casa de seus pais. Surpreendida por um barulho de passos, ela interrompeu a escovação dos longos cabelos louros de sua Barbie e observou atenta a porta do quarto se abrir. 

- Feliz aniversário, querida – seu pai disse, enquanto se curvava e lhe dava um beijo no alto da cabeça. Em seguida, ele lhe entregava uma boneca nova, idêntica àquela que segundos antes ela tivera em suas mãos, porém trajada com um vestido de látex rosa-choque. Alice ficou ali parada, em êxtase, sem agradecer o presente, ou mesmo rasgar a embalagem de celofane. Ela somente saiu do torpor ao se dar conta de que os passos de seu pai já iam longe pelo corredor.

-Alice! Cadê você? – era Helena chegando em casa, seus sapatos de salto alto ressoando no corredor de entrada. Ao entrar na sala, ela viu sua amiga recostada no sofá com cara de sono e exclamou em alto e bom som – Que é isso mulher, tava dormindo? Eu passei as duas últimas consultas imaginando a sua cara ao abrir as cortinas! Você já olhou pela janela da sala?

Ao abrir as cortinas, Alice viu que no terreno vizinho havia uma imensa piscina de dois andares de altura, com paredes de vidro, onde dois mergulhadores batiam pés ritmadamente, seguidos por uma nuvem de bolhas, enquanto um outro desmontava um equipamento situado no fundo. Do lado de fora, três pessoas espalhavam talco sobre a pele antes de vestirem suas roupas de Neoprene.

- É uma escola de mergulho. Você precisa ver a cara deles quando vestem os trajes de borracha pela primeira vez. Todos se surpreendem com a dificuldade de colocar a roupa e a pressão que ela faz sobre o corpo, como um abraço íntimo, apertado. É uma mistura de desconforto e prazer. Depois passam horas se exibindo em frente ao espelho, e tirando fotos para postar no Insta. Parece com a gente, não é amiga? – e as duas caem na gargalhada.

No sábado, elas acordaram tarde e, após um café da manhã reforçado, foram visitar a Igreja de São José. Após alguns minutos admirando as cenas bíblicas pintadas em cores vivas nas paredes do santuário, elas caminharam entre as colunas coríntias em direção aos bancos, onde se sentaram para fazer uma rápida prece. O pudor as levou a escolher o lado da igreja originalmente destinado às mulheres, onde rezaram sob o olhar atento de quatorze estátuas de santas. Sentindo suas almas pecadoras apaziguadas, elas retornaram cedo para casa. Iam de passo leve, como que seguidas por uma revoada de anjos.

Na saída da igreja, elas tiveram de atravessar por um agrupamento de pessoas que protestava por uma sociedade mais humanizada e por maior respeito às mulheres. Naquele momento, uma das protestantes se aproximou de Helena e tentou abraçá-la, enquanto com a outra mão lhe estendia um folheto. Mas Helena se encolheu toda, e protegeu seus braços nus com as palmas das mãos. Alice, vendo que sua amiga se sentia aprisionada, estendeu a mão para resgatá-la, e as duas saíram correndo em direção a um taxi.

- Odeio que gente desconhecida me toque! – disse Helena com os olhos fechados e a respiração acelerada, enquanto Alice lhe dava tapinhas na mão para acalmá-la.

- Relaxa, lembra que logo mais nós iremos para uma noitada no Clube Premium – e as duas trocaram um sorriso cúmplice sob o olhar atento do motorista, que as vigiava pelo espelho retrovisor.

Logo após o banho elas iniciaram a longa preparação para a festa. Helena espalhou silicone sobre todo o corpo para fazer com que a roupa deslizasse sobre sua pele com facilidade. Sua veste de látex preto recobria cada milímetro do seu corpo, deixando apenas os pés, as mãos, o pescoço e o rosto de fora. Ela precisava de ajuda para vesti-la, estendendo o material pouco a pouco e com cuidado. Ao final elas passaram um produto para deixá-lo brilhante e observaram o efeito em um espelho de corpo inteiro, satisfeitas. 

Quando chega a vez de Alice, o ritual foi mais simples, pois a roupa dela era constituída de uma série de peças menores. Ela vestiu as meias longas até o meio da coxa, como se fossem meias de nylon. A seguir, vestiu a calcinha e a cinta liga, e prendeu as meias com os suspensórios. Ela acomodou o corset sobre o busto, vestiu as luvas com mangas longas até o meio do braço, cobriu o pescoço com uma gola de látex decorada com um print de renda e, então, começou a polir todas as peças. Ao final, Alice deslizou com suavidade os dedos nos lugares onde a pele estava encoberta pelo látex: a sensação era voluptuosa. 

Ambas compartilharam o espelho do banheiro enquanto se maquiavam com destreza. A pele viçosa das duas foi recoberta por uma sequência de produtos: hidratante, primer, base, pó compacto e blush. Os olhos receberam cílios postiços e sombras cintilantes; a boca, um batom carmim e cremoso. O resultado era deslumbrante: seus rostos parecem o de bonecas de porcelana, e seus corpos, perfeitamente modelados pelo látex brilhante. 

Meia hora mais tarde, o porteiro interfonou avisando que o Uber que elas haviam pedido já as aguarda em frente ao prédio. Era chegada a hora da partida. Helena sentão se cobriu com um chador negro decorado por um barrado pink, que ela havia comprado em uma de suas viagens, enquanto Alice vestia uma capa de gabardine. Quem as via partindo assim discretas e sorridentes não imaginava o mundo de aventuras que elas estavam prestes a desbravar naquela sexta à noite. O que aconteceu a seguir, caro leitor, eu deixo por conta da sua imaginação.

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Tags: rubbersfetiche por látexpecadonoitada em BH

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