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Se você se preocupa em saber quais histórias são verdadeiras e quais são ficção, lembre-se de que a história muda conforme aquele que a conta, pois todas elas sempre carregam algo de verdadeiro e muito da fantasia do escritor. Afinal, neste mundo das redes sociais, mesmo quando pretendemos estar contando a verdade sobre nós, redigimos uma ficção.

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Uma mãe de shiba meio sem noção

quatro saibas de pelagens diferentes estão lado a lado olhando sobre um muro de uma casa com uma cara de sem-vergonhas


Meu amor pelos shibas começou o dia que vi um aviso de cão perdido colado no poste lá em Botafogo. “Mas que coisa mais linda, parece uma raposinha” foi tudo o que consegui pensar, enquanto admirava embasbacada a foto do cartaz.  Essa frase eu viria a escutar incontáveis vezes nos anos seguintes.

Eu não tinha visto o filme “Sempre ao seu lado”, com o Richard Gere. Esse filme conta a história de um cão que espera todo o dia na estação de trem o dono voltar do trabalho. Mesmo depois de seu dono morrer. Eles utilizaram um shiba para fazer o papel do cão quando filhote. Com o artista principal e o cão lindos, o filme só poderia se tornar o sucesso que todo mundo parece ter visto (menos eu). Essa foi a primeira curiosidade que descobri quando pesquisei sobre a raça na internet.

A raça quase desapareceu depois que as explosões nucleares e a fome assolaram o Japão no final da IIWW. Mas um japonês se dedicou a encontrar os poucos espécimes sobreviventes de shiba no país. Hoje em dia há cafés em Tokio onde inúmeros filhotes de shiba circulam soltos com o objetivo único de permitir o contato dos clientes com esta raça. Coisa de japonês.

Pouco tempo após o evento do cartaz de cão perdido, já havia seis shibas na minha rua e cercanias. Nós, os felizes pais e mães de shiba, criamos uma comunidade no whatsapp para nos encontrarmos todo dia com nossos cães na pracinha e deixar eles soltos socializando por alguns minutos na quadrinha de futebol. Uma solução bem carioca para a escassez de espaços dedicados aos cães.  Uma solução que parecia não agradar muito os papais e seus rebentos que queriam jogar bola. Sinto muito. Na última vez que me dei ao trabalho de ir ao espaço dedicado a cães mais próximo de casa, fui parar no hospital com a clavícula quebrada e um corte na cabeça, vítima de um assalto. Coisas de Rio de Janeiro.

Agora vivendo no sul do país, passei a pertencer a uma comunidade de donos de shiba de POA onde só conheço uma pessoa. Mais de uma centena de participantes troca dezenas de mensagens por dia, com fotos e dicas sobre remédios, adestramento, acessórios, o que é muito bom para que tem um cão de raça ainda pouco conhecida pelos veterinários da cidade. Foi assim que descobri que há um grupo que manda todos os dias os seus shibas para a creche, com suas mochilinhas (?!). Nas incontáveis fotos enviadas na comunidade, o fiofó dos shibas vem quase sempre coberto por uma púdica florzinha. Falta do que fazer? Não é isso! Que culpa a gente tem se cai de quatro por esses bichinhos tão cheios de personalidade?

Minha shiba ignora sistematicamente todas as tentativas de aproximação dos demais cães quando me leva para passear na rua e eu sigo, pacificamente puxada pela guia, na direção que ela escolhe. Ela, que cativa todos com o seu sorriso e sua independência, já deixou a veterinária de boca aberta com uma seringa na mão quando começou a dar uma série de gritos estridentes e quase humanos. Pobre doutora, nunca tinha atendido um shiba. Quando a porta do consultório se abre, invariavelmente todos os olhares se dirigem para nós, incrédulos de que a pobre cachorra esteja bem e em um só pedaço. Coisas de shiba.  

Quanto ao cão do cartaz colado no poste, não se preocupe. Eu descobri mais tarde que o shiba tinha escapado desesperado do carro em que estava quando este foi assaltado. Ele passou dias vagando pelas ruas do centro e zona sul do Rio, mas graças às redes sociais, ele foi reencontrado e devolvido são e salvo ao dono.

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