Últimas novidades sobre a flora
Tão pequenininhas e mal-faladas, mas tão importantes para o nosso bem-estar e equilíbrio: o tema de hoje é sobre as bactérias que constituem a nossa flora intestinal. Esta, na qual a gente somente costuma pensar apenas quando o médico receita um Floratil junto com o antibiótico necessário para tratar a nossa doença.
Flora intestinal é o nome popular dado à microbiota que habita o nosso intestino e é composta de bactérias, fungos, protozoários e vírus. Engana-se quem pensa que na nossa amada barriguinha vivem apenas as ditas ‘bactérias do bem’, aquelas que frequentam os potes de iogurtes e os probióticos. Nela vive de tudo, inclusive as bactérias do mal. Mas estas, em geral, estão sob o controle atento do resto da nossa população intestinal. Porém, basta você tomar um antibiótico, que a coisa sai de controle. Especialmente se o antibiótico visar o extermínio das bactérias gram-negativas.
Bactérias gram-negativas tem uma dupla camada de proteção nas paredes das suas células, o que as torna mais difíceis de matar do que as bactérias gram-positivas. Se o antibiótico que lhe foi receitado visa as bactérias gram-negativas, tal como é o caso da amoxicilina e da clindamicina, isto significa que as bactérias gram-positivas serão também exterminadas e, entre elas, as ‘bactérias do bem’, das quais depende o equilíbrio da sua microbiota. Ou seja, você desenvolverá uma desbiose.
Quando o médico lhe receita um probiótico juntamente com o antibiótico, ele visa reduzir o impacto do tratamento com o antibiótico na sua flora intestinal, evitando o surgimento da desbiose. E isto é de extrema importância, pois a flora participa do seu processo digestivo, é responsável pela manutenção do seu sistema imunitário, e o seu desequilíbrio pode resultar em doenças metabólicas e neurológicas.
Atualmente se sabe que o desequilíbrio da flora intestinal contribui para o aumento das alergias e intolerâncias alimentares. Certamente você já ouviu alguém comentar surpreso sobre a incrível quantidade de pessoas que hoje em dia sofrem com ao menos um destes dois problemas. Saiba que pesquisas desenvolvidas com ratos estão nos ajudando a entender o mecanismo responsável pelo aparecimento destas doenças.
Pesquisas com ratos tem sido de grande importância para o desenvolvimento de antibióticos que não agridam a nossa flora intestinal, porque a microbiota intestinal dos ratos é muito semelhante à microbiota humana. A pesquisa realizada por Muñoz et alii, publicada na última Nature, revela que a integridade da membrana intestinal dos ratos é mantida pelos metabólitos de algumas das bactérias que constituem a sua flora. Nos casos em que estas bactérias são removidas da flora, a integridade da membrana intestinal é reduzida e ela se torna permeável. Com o aumento da permeabilidade da parede do intestino, partículas que viajam pelo trato intestinal atravessam esta membrana e entram na corrente sanguínea, causando alergias e intolerâncias alimentares.
A desbiose pode ser causada pelo consumo de álcool, dieta super gordurosa, doenças genéticas ou uso de antibióticos. Contudo, a regeneração da flora intestinal não é coisa simples. Não basta consumir probióticos, pois o seu efeito não é de longa duração.
O consumo de alimentos e bebidas fermentadas, tais como os picles, a kombucha, o kefir, o kimchi e outros tem sido uma prática cada vez mais frequente como forma de aumentar o consumo de alimentos probióticos e, deste modo, manter o equilíbrio da microbiota. Porém se você já está com desbiose, esta pode ser uma prática perigosa, pois é difícil controlar a composição da colônia utilizada na geração destes alimentos, e eles podem estar contaminados com bactérias patogênicas caso tenha faltado higiene no procedimento adotado.
A regeneração efetiva da flora foi conseguida com um método mais radical e mais dificilmente controlado: a ingestão de cápsulas contendo pellets fecais de indivíduos que tenham uma flora intestinal saudável. Ou seja, um patologista examina as fezes de um grupo de pessoas em busca de uma amostra rica em bactérias do bem, coloca uma amostra destas fezes em uma cápsula e pede que você a engula. E tã dam, o tratamento está concluído.
Infecções intestinais por Chlostridia adquiridas em internação hospitalar são dificilmente curadas e ocasionalmente levam o paciente à morte, uma vez que elas são resistentes à maioria dos antibióticos atualmente existentes. Contudo, tratamentos com cápsulas contendo pellets fecais tiveram sucesso nestes casos, conseguindo restaurar a flora intestinal do paciente e combater a infecção.
Nesta área de pesquisa ainda há muito trabalho a ser feito, mas uma lição salta aos olhos: evite a automedicação e consuma antibióticos apenas sob recomendação médica.
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