Pontes de Maio
Na França, o mês de maio tem duas pontes (esse é o nome dado pelos franceses aos feriadões): a primeira é um feriado de 4 dias (1 a 5) e a segunda tem 5 dias (8 a 12). Como eu não tinha expectativa de poder usufruir de minhas férias esse ano, eu me organizei logo cedo para viajar durante esses dois feriados.
Na primeira ponte fui para Saint-Malo e Mont Saint-Michel, e na segunda ponte fui conhecer a porção oeste da Suiça. Ambas viagens eu fiz de TGV ( http://en.wikipedia.org/wiki/TGV ), um trem superconfortável que anda a 300km/h e é incrivelmente silencioso. Em apenas 3 horas de viagem, vai-se de Paris ao país vizinho, ao litoral da França, ou ao extremo sul do país.
Paris tem varias estações de trem espalhadas pelos quatro cantos da cidade, todas interconectadas com o metrô. Assim a gente vê por todos os lados gente de todas as idades arrastando as suas malinhas, mesmo o pessoal de idade. Eles devem estar indo pegar o trem ou um avião. Quase ninguém anda de taxi, que é caro e raro. Também se vê muita gente indo viajar com seus animais de estimação. Eles são super comportadinhos, e melhor tolerados pelos franceses do que as crianças.
Bom, no primeiro feriado eu comecei visitando Saint-Malo, que foi uma surpresa. Eu esperava uma cidade de praia normal, mas é uma cidade fortificada medieval à beira-mar. Linda. Mais lindo ainda é saber que apesare de ela ter sido quase toda destruída pelos bombardeios da segunda grande guerra, ela foi reconstruída fielmente ao estilo e plano originais nos anos que se seguiram.
Mont Saint-Michel, que eu conheci a seguir, me irritou até a medula, apesar da sua beleza indiscutível. Cheguei de trem à cidade mais próxima de Mont Saint-Michel eu em seguida peguei um onibus direto ate o monte. Quando passei as muralhas não pude acreditar na quantidade de turistas que tinha lá dentro. Turistas, turistas e mais turistas, e muitas lojinhas de quinquilharia por todos os lados. Isto foi suficiente para fazer eu me sentir uma idiota fazendo turismo de massa. Caminhei um pouquinho, fiz um lanche e perdi a paciência. Resolvi me instalar no hotel, que era próximo ao monte, mas tive de caminhar quatro quilômetros com minha mochila nas costas por uma estrada sem acostamento ate chegar ao hotel, pois os motoristas de ônibus do local estavam em greve. Aqui tem sempre uma greve em algum canto.
Mas, por favor, não me entenda mal, o Mont Saint-Michel é um lugar superinteressante. Trata-se de uma ilha fortificada, com uma abadia no alto, rodeada de casinhas na parte baixa e que periodicamente fica isolada do continente por uma maré de 14 m. É isso mesmo, 14m! Assim, no dia seguinte acordei bem cedinho para voltar ao monte e visitar a Abadia - La Merveille. Surpresa! A greve de ônibus continuava, tive de caminhar mais quatro quilômetros. Tomei café no caminho e cheguei ao Monte ao abrir das portas. Munida do meu bom humor matinal e de um audio guide, vistei desta vez tudo com gosto. O mais pitoresco que vi foi uma roda de madeira gigante, onde os prisioneiros detidos na fortaleza deviam caminhar feito hamsters para fazer girar as roldanas que elevavam a sua comida desde a cozinha até as celas.
Saí das muralhas e fui comer meu sanduíche, sentadinha no rochedo à beira-lama (era maré baixa). De repente começaram a chegar turistas enlameados e exaustos, aos bandos. Devia ter ali umas cinqüenta pessoas, cujo único objetivo parecia ser o de me fazer morrer de raiva. Eles tinham chegado de trem à região pelo outro lado da baia de Saint-Michel. No início da madrugada eles retiraram os tênis, colocaram a mochila nas costas e em seguida passado a noite toda atravessando a baia à pé, aproveitando que a maré estava baixa. A cara deles era de puro prazer, e eu ali, sentada no pedregulho, encarando a minha frustração de não ter sabido antes desse programa genial. Guia de merda esse que eu tenho no bolso!
No último dia peguei um ônibus do Monte ate a estação de trem (é obvio que eu tive de caminhar mais 4 quilometros com a minha bagagem nas costas). No caminho, o ônibus parou em frente ao hotel Marriott, estrategicamente instalado em frente a um supermercado local. Um bando de japoneses perfeitamente alinhados com suas malinhas aguardavam a sua vez de comprar o ticket e entrar no ônibus, outro bando de japoneses vinha correndo do supermercado com suas compras de última hora e entravam no ônibus carregados de frascos de creme rinse e de latas de biscoito, tudo muito típico do Monte Saint-Michel. Ao meu lado sentou uma japonesa de meia-idade, louca para exercitar o seu conhecimento de inglês. O marido, do outro lado do corredor, era mantido a par da conversação por breves comentários em japonês a cada 3 minutos. Ela me contou orgulhosa que já conhecia 50 países e que prefere viajar de modo independente, sem guia. Em seguida quis saber com o que eu trabalhava, ao que eu respondi `petroleum´. Após intermináveis discussões com o seu marido, ela finalmente resolveu me perguntar ´Petroleum? What is petroleum?´. Eu quase caí sentada. Na verdade isso só não aconteceu, pois eu estava bem instalada na poltrona do ônibus. Eu falei da origem do petróleo, da sua conversão em gasolina e diesel nas refinarias, e do seu uso como combustível para os automóveis. Ela então me disse com um ar de desprezo, como para explicar o seu desconhecimento do que é petróleo, que hoje em dia existem muitas alternativas energéticas não poluentes... Gente, eu fiquei louca para conhecer o Japão, esse país superecológico, cuja população desconhece o petróleo, uma fonte de energia utilizada na idade da pedra.
Para saber mais sobre Saint-Malo: http://www.saint-malo-tourisme.com/decouvrir
No caso de Mont Saint-Michel: http://www.ot-montsaintmichel.com/en/accueil.htm