Pamplemousse
Esse sábado amanheceu chuvoso e eu declarei por decreto que minha roupa estava limpíssima, minha geladeira repleta e a casa impecável. Dia de chuva é feriado! Vou me dedicar a aprender ... a comer pamplemousse. Essa fruta que parece um laranjão, mas é cor-de-rosa, me desafia toda vez que eu desfilo com meu bandejão em frente aos estandes de salada, frutas e sobremesa da cantina onde almoço: você vai afinal me escolher, ou vai continuar comendo salada de frutas que nem criança?Meus colegas tem toda uma técnica para comer pamplemousse (sinto muito, mas não sei o nome dessa fruta em português) sem melar os dedinhos. Eles primeiro passam a faca entre a casca e os gomos de uma metade da fruta, depois destacam gomo a gomo com uma colherinha de chá. A casca resta impecavelmente limpa no prato, e tudo isso é feito sem o menor esforço aparente."Isso não pode ser assim tão difícil", foi o que pensei ao sair da cama essa manhã, colocando de lado meu novo livro "Comer, Rezar, Amar" e atacando a fruteira.
Quatro metades de pamplemousse mais tarde, eu admito derrotada que vou passar mais um longo tempo sem poder comer essa fruta em público. Mas, afinal de contas, essa fruta nem é tão boa assim.
Completo o meu primeiro ciclo de 6 meses na França, e sou vítima do mesmo carrossel de emoções a que todo estrangeiro é submetido quando se instala em um país que não é o seu. Isso ao menos é o que me afirma a minha colega de sala de origem portuguesa. Eu, na verdade, ando meio chocada com o pão-durismo francês, de dinheiro e de afeto, porque esses dois, você bem sabe, andam sempre juntos. Voltar