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Se você se preocupa em saber quais histórias são verdadeiras e quais são ficção, lembre-se de que a história muda conforme aquele que a conta, pois todas elas sempre carregam algo de verdadeiro e muito da fantasia do escritor. Afinal, neste mundo das redes sociais, mesmo quando pretendemos estar contando a verdade sobre nós, redigimos uma ficção.

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O paraíso fica no Tocantins

 

Em 2014, eu decidi que não teria que durante as minhas férias eu não teria que parar em uma série de aeroportos, ter longas listas de lugares para visitar e enfrentar a típica conversa de viagem (quantos países você conhece?) com outros turistas nas minhas férias. Decidi ir contra a corrente e comungar com a natureza. Para isso, nada melhor do que viajar para Tocantins, o estado mais jovem do Brasil.

Um dos lugares mais bonitos que visitei por lá foi o Parque Estadual do Cantão, onde ficamos hospedados na casa do Raimundo. Saímos de lancha da cidade de Caseara e depois de 40 minutos de viagem chegamos à casa do Raimundo, localizada em uma das barras do Rio Araguaia, no Parque Estadual do Cantão, Tocantins, BR. Seguimos caminhando por uma trilha de 10 km na mata até chegarmos ao paraíso, localizado no quintal de Raimundo. Seu Raimundo mora num barraco à beira do rio, no coração do Parque Estadual. Cercado por árvores frutíferas do cerrado, nos confins da Amazônia meridional, ele passa o dia entre sua hortinha de ervas, suas galinhas e a fabricação de farinha de mandioca. Stress? Ele não sabe o que é isso!

No primeiro dia, tomamos banho numa praia à beira do parque. Só nós e Deus. E um golfinho que se aproximou de nós e passou meia hora a nadar à nossa volta e a subir à superfície para respirar e nos observar. O sol já estava baixo quando decidimos quebrar o feitiço e regressar à "casa". Os mosquitos começaram a nos atacar. Seu Raimundo não hesitou e pegou uma lata de inseticida em spray, espalhou o veneno por todo o corpo até fazer uma espuma branca e, como todo bom cavalheiro, me ofereceu um pouco. "Não precisa, Seu Raimundo, eu estou bem". Então, resolvi entrar na lagoa localizada nos fundos de sua casa para tomar um banho, arrastando os pés para não pisar numa arraia. A mestranda, especialista em ariranhas, que também estava hospedada na casa de Seu Raimundo, até então não tinha tido coragem de entrar na lagoa. "As picadas de arraia são muito dolorosas", ela me disse depois. Mas eu não sabia disso até então.

A casa do seu Raimundo já estava cheia, mas o pessoal que estava hospedado por lá montou para nós uma tenda do tamanho de uma casa, que até tinha duas camas, uma mesa e duas espreguiçadeiras! Em frente à fogueira, havia três pacus que tinham acabado de ser pescados na lagoa. Quando começa o verão e o rio Araguaia começa a secar, formam-se cerca de 830 lagoas fechadas na área do parque. Os peixes que vivem ali ficam presos nessas pequenas lagoas e passam o verão inteiro só engordando. É a garantia de uma refeição farta. Nesse dia vimos um rastro de onça-pintada (veja a foto da pegada), paca, anta, capivara e um teiú, que atacou o ninho de um tracajá para comer seus ovos. Os jacarés na lagoa em frente eram tímidos e não colocavam a cabeça para fora. Os jacarés aqui só são mortos quando atingem 6m de comprimento e ficam tão loucos que começam a atacar crianças e comer cachorros.

Seu Raimundo me prometeu uma noite de paz e silêncio absoluto em suas terras. Mas quando o gerador foi desligado, só se ouvia uma melodia louca de grilos e pássaros noturnos, além do ronco interminável na cama ao lado da minha. Dormi mal, acordei morta de cansaço, sentindo falta do ronronar do ar condicionado do meu quarto para me embalar no sono. Depois do jantar, Seu Raimundo nos chamou para ver jacarés. "Vocês têm que apontar a lanterna na superfície do lago para que a luz seja refletida pelos olhos dos jacarés". Fomos até o lago nos fundos da casa, ligamos a lanterna e o lago se iluminou com uma constelação de olhinhos. Havia jacarés por todo o lado. Mas muitos não tinham mais de 60 cm de comprimento. No verão passado havia um jacaré de 3m neste mesmo lago, mas nem este atacou as galinhas, os cachorros ou as pessoas da casa, pois o lago está sempre cheio de peixes, garantindo a saciedade dos jacarés.

Que dias maravilhosos eu passei aqui, Seu Raimundo. Vai ser difícil voltar à minha vida normal.

ninhos de aves pendurados nos galhos das árvores

 

pegada de onça na areia

 

Seu Raimundo à beira do rio onde nadamos com o golfinho

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Tags: Raimundo, Tocantins, natureza

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