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Se você se preocupa em saber quais histórias são verdadeiras e quais são ficção, lembre-se de que a história muda conforme aquele que a conta, pois todas elas sempre carregam algo de verdadeiro e muito da fantasia do escritor. Afinal, neste mundo das redes sociais, mesmo quando pretendemos estar contando a verdade sobre nós, redigimos uma ficção.

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O Ataque da Microonda

Ontem o canal France 3 levou ao ar, em pleno horário nobre, um programa especial dedicado aos malefícios ligados à comida, à bebida e aos microondas. Quando eu liguei a tv, o programa já estava no seu último bloco: os microondas. Os apresentadores faziam uma demostração ao vivo da variação do comprimento da onda (ou será da frequência?) emitida pelo celular ao teclar send para completar uma ligação. O sinal, normalmente em torno de 1 a 2, escalava rapidamente a valores entre 40 e 50 cada vez que o celular tentava achar uma rede. Os jornalistas, visivelmente abatidos pelos inúmeros perigos da vida moderna discutidos até então, pareciam afinal derrotados. O fumo causa câncer e multa pesada, o peixe está envenenado por PCB (que diabos é isso?), as maçãs estão contaminadas por 20 diferentes substâncias. Até aí tudo pode ser contornado, mas ter de deixar de usar o celular já é demais!
Eu vi a cara murcha dos dois e achei graça. Dependência besta essa, sô!
Mas Deus castiga quem ri da desgraça alheia, e o golpe de misericórdia veio logo a seguir, pois o perigo do microondas não se restringe ao uso dos celulares. A tecnologia wi-fi (se diz uífi, em francês) que tanto me dá alegrias, pois conecta tudo aqui em casa sem a necessidade de fios, também é um risco à saúde.
Há pessoas que são mais sensíveis do que a média à ação das microondas. O programa mostrou o caso de uma senhora que pouco sai de casa, pois sente vertigens e mal -estar cada vez que é atacada por uma microonda! Seu apartamento tem as paredes todas forradas de papel alumínio e a cama é coberta por um dossel de tecido metalizado anti-raios. O especialista-pária, que insistia que as microondas podem ser letais e que já há inclusive registros de óbitos na França e na Espanha, começou a esbravejar feito um fanático da bíblia, enquanto os demais especialistas assistiam mudos à cena. Aí quem murchou fui eu.
Apaguei a tv antes do fim da emissão (do programa e das microondas), desconectei a livebox da Orange que se conecta wi-fi ao meu laptop e telefone via IP, desliguei a impressora wi-fi e fui dormir, escutando as microondas emitidas pelas livebox dos meus vizinhos ricochetear pelas paredes. Afinal me dei conta que não eram as microondas, mas sim a minha vizinha do andar acima que fazia um auê danado, festejando os prazeres da vida.
Hoje de manhã abri os olhos e vi meu telefone anunciar em letras garrafais: SEARCHING. Com a livebox desligada, ele tinha passado a noite toda tentando captar uma rede...
Se amanhã eu ainda estiver viva, volto a escrever para você.Foi um prazer conhecê-lo.
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Tags: microondas sensibilidade

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