Natal em Gramado
Qual é a cidade turística brasileira mais famosa pelas atrações em época de Natal? Se você perguntar ao chatGPT, ele vai te responder: Gramado. Canela está logo ali ao lado, um pouco menor e mais tranquila. Na temporada do Natal tudo muda por aqui na serra gaúcha. Nem mesmo o restaurante com comida à quilo onde almoço todo o dia escapa ao frisson que agita a região. Nestes dias, o proprietário do restaurante contratou um violeiro pilchado para cantar músicas gauchescas e, vez ou outra, um forró sertanejo. A clientela se anima e sobe o tom da conversa intercalada com as garfadas, enquanto os mais empolgados sacodem o corpo no ritmo do acordeom.
Nem mesmo a queda do avião que decolou do aeródromo de Canela e caiu em plena avenida das Hortênsias, uma das principais artérias de Gramado, foi capaz de abater a agitação que tomou conta da serra gaúcha neste Natal. Poucos dias após este acidente que matou 12 pessoas, passei pela mesma avenida e fui incapaz de identificar o local da queda. Os móveis de jardim que ficavam sempre expostos em frente à loja de decoração e apareceram fumegantes nas reportagens sobre o acidente desapareceram, e os escombros das casas atingidas foram removidos. Vida que segue.
A serra gaúcha, que já havia sido profundamente afetada pela pandemia, voltou a ser castigada pelo fechamento do aeroporto Salgado Filho devido à enchente de maio no Rio Grande do Sul. A economia local é possante, porém depende fundamentalmente do turismo. Por causa disto, empresários e políticos locais se reuniram e decidiram diminuir a exposição da economia local a futuros eventos climáticos adaptando o aeródromo de Canela para decolagem e pouso de aviões de maior parte. Contudo, a queda do avião causada pela baixa visibilidade decorrente das espessas neblinas que afetaram a região na semana do Natal mostrou que a aviação necessita também de regras mais rígidas que regulamentem as condições de pouso e decolagem.
Nada disso, porém, foi suficiente para abater o entusiasmo dos turistas neste fim de ano. Para cá vieram gaúchos, nordestinos e argentinos. Mas este movimento não ocorre apenas nos tempos de festas. Muitos vem para o sul em busca de melhores oportunidades e acabam ficando por aqui. Descubro encantada que a serra é um polo de empregos para a mão de obra nordestina. Outros mudam para a serra gaúcha após a aposentadoria. E não são poucos. Por conta disso, novos prédios pipocam por todo lado desde que a pandemia acabou.
Os empresários locais lambem os beiços com toda essa agitação e arregaçam as mangas para oferecer o que há de melhor para quem é de fora. Não vou nem me deter falando sobre as atrações turísticas oferecidas. Os tempos em que Gramado era conhecida apenas por seus chocolates, malhas, neve, festival de cinema e café colonial já vão longe. Agora o turista encontra um cardápio variado de atrações, e até mesmo um museu com uma das maiores coleções de artefatos originais da Nasa. Se o seu sonho era ser astronauta, não vacile: venha!
As oportunidades de negócio não se restringem ao número de leitos, de restaurantes e de lojas de lembrancinhas. Acostumada à lavanderia que frequentava toda semana quando morava no Rio, instalada em um sobrado antigo e charmoso, com placas de ferro presas junto ao piso da entrada para impedir a entrada das enchentes de fim de verão, levei um susto quando resolvi levar meu edredom para lavar. Ao invés de uma casinha velha, encontrei um galpão imenso recheado de máquinas industriais e dezenas de empregados, com mesas a perder de vista onde pilhas de lençóis e toalhas brancas eram embalados para ser entregue aos hotéis e moradores da região.
Tanto sucesso turístico e empresarial desperta uma questão incômoda: até onde uma cidade turística pode crescer sem perder seu charme? Isto com certeza o futuro responderá. Por enquanto só há uma coisa a dizer: Feliz Ano Novo para você e sua família, e que 2025 traga a todos nós muitas oportunidades incríveis de realização pessoal e paz no mundo.
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