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Se você se preocupa em saber quais histórias são verdadeiras e quais são ficção, lembre-se de que a história muda conforme aquele que a conta, pois todas elas sempre carregam algo de verdadeiro e muito da fantasia do escritor. Afinal, neste mundo das redes sociais, mesmo quando pretendemos estar contando a verdade sobre nós, redigimos uma ficção.

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Laços Frouxos

 


Fim de semana chuvoso é tempo de reflexão. E como não poderia deixar de ser, refleti sobre o assunto que tem me perturbado ultimamente: meus laços frouxos. Nestes últimos tempos revi na minha memória o número nada desprezível de pessoas de quem eu gostava e simplesmente perdi o contato por algum motivo banal. Sem nenhuma razão séria, apenas devido à falta de iniciativa de procurar a pessoa e dizer “Estou com saudades de você. O que tem feito da vida?”. 

 

 

Laços afetivos são como músculos, senão forem exercitados e bem cuidados, eles perdem a tonicidade. E à medida que o tempo passa, essa displicência com nossos afetos só faz piorar se não fizermos nada para mudar esse mau hábito. A gente vai se acostumando com o fato de que as relações têm início, meio e fim, que as pessoas nos decepcionam, que o mundo está cheio de gente e que alguém novo sempre acaba aparecendo. E deixa pra lá. Desse jeito, todos aqueles que se afastam de nós por algum motivo acabam se distanciando ainda mais na maré vazante da vida.

 

Eu sempre senti inveja quando via alguém com um velho amigo. Daqueles amigos que se conhece desde a infância ou adolescência. Me consolava dizendo para mim mesma que só tem velhos amigos que nunca saiu da sua cidade natal. Mas isso é mentira. Mentira deslavada. Tem gente que liga com antecedência pro seu amigo dizendo a data da sua chegada na sua cidade de origem, e já deixa marcado o encontro no bar. Curte o antes, o durante e o depois do encontro. Valoriza todas as fases, como faz o bom peregrino de Santiago de Compostela. Para que fazer a peregrinação da vida e aprender a lição, se no final a gente não está disposto a colocar ela em prática?

 

Hoje recebi uma mensagem pelo whatsapp falando que Patrícia Leite estaria participando de um evento em um centro cultural em Porto Alegre, “Os lugares que ainda não visitei”.  “Que interessante o título desta palestra”, pensei. “Faz tanto tempo que não vejo minha prima, seria uma ótima chance de encontrar com ela e saber um pouco da sua vida, do seu trabalho.”. Talvez movida pelas minhas elocubrações dos últimos tempos, resolvi agarrar a chance que o destino me dava. Procurei a foto dela no insta, para não ter nenhuma surpresa na hora do encontro e acabar numa saia justa danada. Me lavei, perfumei, maquiei, e me vesti com um pouco mais de esmero do que o usual, e saí de casa, enfrentado o dilúvio que se abatia sobre a cidade.

 

Cheguei cedo para ter chance de conversar com ela tranquilamente. Na verdade, fui a primeira. Nem ela mesma havia chegado. Quando entrei no centro cultural, vi que o evento não seria uma palestra, mas sim uma exposição de quadros e aquarelas. “Coisa estranha, a pintora da família sempre foi a irmã dela! Mas assim como eu resolvi começar a escrever agora, vai ver que ela resolveu começar a pintar.”. Encontrei com a dona da galeria e perguntei se a Patrícia Leite agora estava morando novamente em Porto Alegre. “Acho que sim”, me disse ela. Não sabia que ela já tinha morado fora”. Então uma luzinha se acendeu na minha mente. “Você sabe a idade dela?”, perguntei, enquanto abria o insta para mostrar a foto da minha prima.

 

 

Foi nessa hora que Patrícia chegou. Saímos a dona da galeria, seu marido e eu para darmos as boas-vindas a ela. Cara simpática e sorridente, olhos claros e transparentes de quem está em paz com o criador.  Não era minha prima, mas eu bem que gostaria que fosse. Num ataque de alvoroço fiz um resumo da minha história para ela, que me disse tranquila “Fica mais”. Mas eu já estava tão sem graça com a confusão que eu mesma tinha armado, que apenas elogiei a exposição e me despedi com um riso:“Tchau, prima!”. Fui embora pensando que o Universo conspira para que a gente tome as boas resoluções, mas que cabe à nós tomar as iniciativas.  

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Tags: amigos de infâncialaços afetivos

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