Japonismo não é sushi
Salão japonês na Maison de Victor Hugo (from: linternaute.com)Uma das minhas primeiras descobertas do meu período francês foi a intensidade com que o Japonismo atacou a França no séc. XIX e as conseqüências deste movimento artístico até os dias de hoje.
Após dois séculos e meio fechado ao contato com os demais países, o Japão afinal se abriu ao ocidente através de contratos de comércio com países da Europa e EUA. Cargas de seda, porcelana e objetos laqueados aportaram no Ocidente, gerando frisson nas exposições mundiais que marcaram o final do século dezenove. As louças fizeram um sucesso todo especial entre os artistas devido ao seu baixo preço e sua beleza. Enroladas em folhas de jornal com propagandas ricamente ilustradas à mão, elas conquistaram um novo público para a arte gráfica popular japonesa no ocidente. Van Gogh , Monet e Toulouse-Lautrec são alguns dos exemplos de artistas profundamente influenciados pela estética nipônica.
Na visita à casa de Claude Monet, em Giverny, eu pude ver a que ponto este movimento cultural afetou sua vida e obra. As paredes de sua casa são decoradas por inúmeras litografias japonesas, que ele colecionava com avidez. Enquanto que a construção do lago das ninféias nos fundos do seu terreno, todo cercado por jardins japoneses e típicas pontes de madeira em arco, exigiu requintes de engenharia para a impermeabilização do terreno aliados ao aquecimento de suas águas nos meses mais frios de inverno para evitar a morte das carpas.
Também o escritor Victor Hugo se deixou afetar por esta onda. Um dos quartos de sua casa situada na Place des Vosges é todo decorado em estilo japonês e suas paredes são recobertas até o teto por pinturas de inspiração japonesa. O bom humor deste grande bom vivant foi registrado pelo pedido feito ao pintor para que eternizasse em um dos cantos da peça sua cozinheira favorita pintada como um gordo sushiman trajado à caráter.
Logo descobri que o japonismo na França deixou os japoneses profundamente reconhecidos, e hoje em dia são eles que dão mostras de um fanatismo louco por tudo o que é francês. E isto não se resume às grifes francesas! Uma boa parte das casas de cultura de Paris são hoje propriedade deles, inclusive a própria Fundação Claude Monet em Giverny, que é um das coisas mais bonitas que eu já vi neste período em que estou na França.
Outra coisa curiosa é o fato de que esta paixão tão louca dos japoneses pela cultura francesa e sua visão idealizada de Paris resultam em um choque cultural profundo em uma parte considerável dos turistas japoneses que vem visitar a cidade luz e dos estudantes de intercâmbio. A dificuldade de comunicação deles na língua francesa e o jeito rude do francês tratar o turista estrangeiro deixam o japonês em estado de choque e muitos acabam precisando de tratamento médico!
Finalmente, na sua próxima viagem à Paris, não deixe de visitar o Musée Guimet d´Art Asiatiques.
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