Educação é coisa que vem do berço
Aqui na França o consumidor ainda não é paparicado como nos Estados Unidos. Se a caixa registradora fechar na tua frente, dane-se o tempo que você perdeu esperando na fila. Vá procurar outra caixa que esteja aberta e pegue o último lugar da fila outra vez. Já a venda de bilhetes de cinema sempre abre um pouco antes de começar o filme, as filas são, portanto, enormes. O filme atrasa, o povo faz fila na rua, embaixo da chuva. É sempre assim. E o pior é que aqui tem chovido seguidamente. O francês está tão acostumado a seguir regras que não se revolta!
Ser educado e seguir as regras é coisa levada a sério por aqui. Todo mundo aqui diz bonjour, merci, au revoir e bonne journée. Se você não cumprimenta, e apenas diz, por exemplo, ao caixa do cinema qual é o filme do qual você quer ver, receberá os tickets acompanhados de um olhar desaprovador.
A educação começa desde cedo. Outro dia, eu estava lanchando na Quick quando vi a mulher da mesa ao lado recolher a chupeta do seu bebê que havia caído no chão. Ela calmamente esfregou a chupeta na calça jeans e a aproximou da boca da criança, assim como que faz aviãozinho. Zummm. A criança deu um sorriso a coisa mais linda, mas, quando a chupeta estava quase chegando na boca, a mamãe disse bem alto ´Merci´ e ficou com a mão parada no ar. O bebê não entendeu nada e ficou olhando aturdido a chupeta voar para longe na mão da sua mãe. Lá pelas tantas a chupeta voltou de novo, acompanhada de um outro ´Merci´. O bebê, tadinho, ficou mudo fazendo beicinho, louco pra ganhar a chupeta, mas mais uma vez ela se afastou no último minuto. A criança mal tinha aprendido a falar e sua mãe já queria que ela agradecesse a cada favor feito por ela. Dá pra crer? Pois após acompanhar essa tortura se repetir quatro vezes eu resolvi mudar de mesa antes que eu tivesse um ataque!
As mães em geral são exigentes, impacientes e estão sempre cansadas. Os pais, ao contrario, são amorosos e atentos. Em uma lanchonete, vi 20 crianças sentadas comportadamente comendo seus hambúrgueres. Sem gritar! A lanchonete distribuía balões. As crianças pegavam os balões, se entretinham um pouco com ele, e algumas retornavam seus balões ao distribuidor após algum tempo! Por quê? No Brasil cada um sairia com no mínimo dois ou três balões na mão, pois, afinal de contas, não era de graça?!
A França é o país europeu que mais faz filhos. Cada casal tem em média três crianças. Essa proliferação é uma novidade. Os carinhos de bebê parecem ter sido criados em Gotham City, tem design e são caríssimos. Os bebês vão passear na rua mesmo em dia de neve, pois tem acessório para todos os climas. Outro dia passou por mim um pai levando suas duas crianças para a escola de bicicleta. O detalhe é que chovia a cântaros. As crianças iam bem tranqüilas, rebocadas em um side-car coberto por um toldinho. Uma fofura todos os três!
Na França a mulher para de trabalhar com 7,5 meses de gravidez e volta a trabalhar 2 meses após o parto. Creche aqui não é uma livre escolha, pois ela deve estar situada na região onde você mora, como, aliás, deve estar também a escola das crianças. E o pior é que nem sempre se consegue vaga e acaba-se tendo de entrar em fila de espera. É isso mesmo, aqui também tem fila. Mas francês não é que nem brasileiro, que adora uma fila, é especialista em fila, filas longas e belas para quase tudo que se preze. Aqui não é assim, aqui a coisa é mais confusa. Mas isso eu vou deixar para te contar outro dia.
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