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Se você se preocupa em saber quais histórias são verdadeiras e quais são ficção, lembre-se de que a história muda conforme aquele que a conta, pois todas elas sempre carregam algo de verdadeiro e muito da fantasia do escritor. Afinal, neste mundo das redes sociais, mesmo quando pretendemos estar contando a verdade sobre nós, redigimos uma ficção.

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Descubra-se, camaleão!

 

(legenda: o camaleão simboliza a falta de personalidade e de originalidade e a submissão à vontade alheia)

Fica quietinha, não diz besteira. Para de tentar chamar atenção para você. Deixa de criar drama a partir de qualquer coisa. Mulher complica tudo. Que vergonha aquela mulher, parece uma puta. Onde é que tu vais vestida deste jeito? Parece uma puta! Parece uma freira! Isso é coisa de guria nova, não fica bem na tua idade. Tu já passaste da idade de fazer essas coisas. Marcenaria, caixa de ferramentas, conserto de carro? Isso é coisa de homem. Vão achar que tu és sapata. Vai lá te maquiar, tu não estás mais na idade de andar de cara lavada. Cruzes, como é que tu tens coragem de vestir essa roupa tão fora de moda?! 

 

Viver é lutar para se des-cobrir. E essa luta é tanto mais dura, quanto mais distante da normalidade você se descobre. E, convenhamos, quem é normal? Após passar a infância e adolescência modelando a sua personalidade para atender as expectativas dos pais e mestres, você finalmente chega à idade adulta e, se der sorte, à independência financeira. Agora é a tão esperada hora de abrir as asas, não é? Mas daí vem a busca de um parceiro que te valorize, as exigências com relação à sua aparência e atitude no seu ambiente profissional, as expectativas do seu nicho nas redes sociais, a publicidade que dita gostos e sonhos... E você se perde mais uma vez. Se sente frustrada, insatisfeita, com suas energias drenadas, e nem sabe por quê. O seu dia a dia é tão desgastante, que você acaba se adaptando às expectativas alheias para ser amado e diminuir os atritos.

 

Ok. Depois de tanto esforço, você já pode dizer a si mesma que é amada e respeitada, ou pelo menos é isso que os que te cercam te fazem crer. Mas será que é você mesma que é amada, ou um avatar seu de baixa qualidade que anda por aí vivendo a sua vida? Difícil saber se você não fizer o esforço supremo de ignorar as expectativas alheias e descobrir afinal do que é que você gosta. E, não se engane, eu não estou falando de opções sexuais. Isso é uma partícula pequena do todo. Se descobrir é muito mais do que sair do armário.

 

Toda essa divagação foi despertada por uma matéria postada pela UOL em fevereiro de 2021 em que eu acabo de tropeçar por acaso, dois anos e meio depois da sua publicação. Fala de mulheres idosas tatuadas. Não, meu problema não é esse, adoro a minha pele do jeito que ela é, não desejo fazer tatuagens. Mas me pego admirando as mulheres retratadas na reportagem, que lutam contra as expectativas da sociedade e da família para assumirem a imagem e a vida de que gostam. Nesta reportagem há uma foto em especial que me desperta inveja. Nela, uma sexagenária de cabelo azul claro e pele toda tatuada mostra o dedo para o leitor da reportagem. “Fodam-se as suas regras, caro leitor”, ela parece dizer.

 

Essa foto me lembra de que na vida de todos nós há mais de uma oportunidade de descoberta e renascimento. Tradicionalmente, essas oportunidades ocorrem na adolescência e na aposentadoria, mas podem variar de uma pessoa para a outra. Eu me sinto como o australiano Max Peters que diz se arrepender amargamente de ter visto a onda do Bitcoin surgir e não ter aderido quando dava tempo. A minha onda da autodescoberta está passando lá fora na arrebentação, e eu tenho de nadar de braçada para alcançar esta onda, ou então vou passar o resto da vida tendo de me adequar às expectativas alheias. Mas enquanto eu não alcanço a onda, por favor esquece tudo o que eu disse e dá um like aí abaixo. Brincadeirinha...

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Tags: expectativas sociaisaposentadoriaautodescobertaadolescencia

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