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Se você se preocupa em saber quais histórias são verdadeiras e quais são ficção, lembre-se de que a história muda conforme aquele que a conta, pois todas elas sempre carregam algo de verdadeiro e muito da fantasia do escritor. Afinal, neste mundo das redes sociais, mesmo quando pretendemos estar contando a verdade sobre nós, redigimos uma ficção.

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Cukurs, o nazista dos pedalinhos da Lagoa Rodrigo de Freitas

“Olhe para mim! Tenho cara de carrasco?”, disse, ao repórter do jornal O Globo, o cinquentão empedernido e de sotaque carregado, deixando bem claro o quanto se sentia ofendido por aquelas acusações infundadas.

Cukurs

O cidadão indiganado era Herbert Cukurs (*1900 +1965), um imigrante europeu que havia vindo para o Brasil um ano após o término da Segunda Guerra Mundial com sua mulher, três filhos e a sogra, instalando-se inicialmente no Rio de Janeiro. Aqui, ele abriu uma empresa de aluguel de pedalinhos na Lagoa Rodrigo de Freitas e viveu discretamente com sua família até aquele dia de inverno em 1950, quando as acusações de crime de guerra contra ele começaram a vazar na mídia carioca.

Cukurs era um cidadão famoso na Letônia, a sua terra natal. Fora um piloto pioneiro em voos de longa-distância, sendo aclamado um herói nacional e apelidado de “o Lindbergh Letão”. Suas habilidades como engenheiro aeronáutico lhe permitiram projetar, construir e fazer a manutenção de três aviões e um avião-bombardeiro, o que lhe tornou valioso também aos olhos da União Soviética, que tentou em vão recrutá-lo. Durante a invasão alemã da Letônia na IIWW, ele havia se alistado no Arajs Kommando, uma unidade militar que trabalhava para a SS nazista.

Naquele dia de 1950 em que a Federação das Sociedades Israelitas do Rio de Janeiro convocou a imprensa, a sociedade carioca escutou estarrecida os depoimentos aterradores de quatro sobreviventes do holocausto. Na verdade, Cukurs era um oficial sádico da SS que se comprazia em assassinar crianças em frente as suas mães, estuprar muralhes e torturar e assassinar homens indefesos. Durante a guerra, ele esteve diretamente envolvido em vários massacres que se tornaram tristemente famosos, respondendo pelo extermínio a sangue-frio de pelo menos 30 mil judeus.

Contudo, como naqueles anos do pós-guerra toda a atenção internacional estava voltada para a guerra-fria, os crimes de guerra cometidos por vários oficiais nazistas demoraram a ser checados. Embora o Brasil tivesse solicitado à vários escritórios de diplomacia da Inglaterra e de outros países que averiguassem se as acusações contra Cukurs eram verídicas, nada foi feito. Nesse meio tempo, o carrasco letão mudou-se do Rio para Niterói e, em seguida, para Santos, terminando por instalar-se em São Paulo. 

Quando os crimes perpetrados durante a II WW completaram 20 anos, as nações decretaram que esses crimes haviam prescrevido e que os culpados não seriam mais julgados, nem condenados. Porém a essa época, Cukurs passou a sentir-se ameaçado, pois sabia que os espiões do Mossad agora caçavam os criminosos nazistas em seus esconderijos ao redor do mundo e os exterminavam.

Embora fosse proprietário de uma pequena empresa de aviões de passeio em São Paulo, ele vivia uma vida de dificuldades financeiras. Se sentindo inseguro e ameaçado, ele morava em uma casa que mais parecia uma fortaleza. Permanentemente protegida por cães de guarda ferozes, sua casa era cercada por um muro alto encimado por rolos de arame enfarpado, e permanentemente varrida pela luz de potentes faróis de guarda. Apesar de tudo, ele demonstrava autocontrole no seu dia a dia.

Em 1965, ele acabou sofrendo uma emboscada de um espião astuto do Mossad, que se fez passar por um homem de negócios austríaco. Anton Kuenzle, o fictício empresário, contactou Cukurs durante meses a fio, acenando-lhe com a possibilidade de estabelecer uma sociedade lucrativa na área do turismo. O golpe de misericórdia foi dado no Uruguai, onde ambos se encontraram para discutir os detalhes desta sociedade. Seu corpo foi abandonado em um baú com um bilhete informando, a quem o encontrasse, dos crimes de guerra que ele havia cometido. Ao pé da página, o bilhete era assinado por “Aqueles que não se esquecerão”.

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Tags: Herberts Cukursnazista do pedalinhoRio de JaneiroMossad

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