Loading...

Se você se preocupa em saber quais histórias são verdadeiras e quais são ficção, lembre-se de que a história muda conforme aquele que a conta, pois todas elas sempre carregam algo de verdadeiro e muito da fantasia do escritor. Afinal, neste mundo das redes sociais, mesmo quando pretendemos estar contando a verdade sobre nós, redigimos uma ficção.

Blog

Veja nossas postagens

A meditação do peixe

O prazer de adotar a "meditação do peixe" e se deixar levar sem culpa 

pela corrente da vida.

foto do Rio Sucuri (www.turismo.bonito.ms.gov.br)

Existe coisa mais cômoda do que relaxar e deixar a vida decidir por você? Ou deixar que os outros façam as escolhas? Simplesmente se deixar levar? Dessa verdade os peixes do Rio Sucuri me recordaram com maestria. 

Numa dessas férias, fui fazer flutuação no Rio Sucuri, lá em Bonito, MS. Ao chegar no local e olhar para o rio, achei o programa meio sem graça. Uma chuvinha fina contribuía para o meu desânimo. É só isso? Botar um colete salva vidas, mascara e snorkel e sair flutuando, levada pela corrente do rio? Bom, vamos nessa. Quem tá na chuva é pra se molhar, não é mesmo?


Vesti toda a parafernália e, ao sinal do guia, entrei na água o mais silenciosamente possível, para não perturbar os peixes. A chuva, como por encanto, cessou, dando passagem a um solzinho tímido. Logo de cara, descobri que esses programas em que você participa passivamente tem lá sua graça. Sem a necessidade de reagir a qualquer desafio ou perigo, corpo e mente relaxam, a sensibilidade aflora. A primeira coisa que percebi, foi a beleza do leito do rio. A luz do sol filtrada pelas águas conferia um brilho prateado a tudo que me cercava, com nuances esverdeadas. Verde água. O leito arenoso do rio parecia coisa do outro mundo. O burburinho lá de fora praticamente sumiu. Dentro d'água, o canto de pássaros foi substituído pelos estalos e o crepitar da linguagem dos peixes. Minha respiração, normalmente imperceptível, dentro d’água se transmutou em um estrondo de roncos e bolhas. Difícil passar desapercebida. Mesmo assim, os peixes passavam pertinho de mim, arrastados a jusante pela mesma corrente que me impulsionava.


De repente eu me senti parte do cardume, com as mesmas escamas nacaradas, o mesmo bater de guelras. A mesma falta de intenção. Não sei te explicar o que me aconteceu. Deve ter sido o resultado de uma forma de meditação. Aquela em que você se concentra na sua respiração e mais nada. O ar entra e sai do seu pulmão…entra…e sai…entra…e sai… É claro que toda aquela barulheira do ar passando pelo snorkel deve ter ajudado a focar na respiração. Pela primeira vez não tive de me imaginar descendo uma escada, ou relaxando cada cm2 do meu corpo até chegar às pontas dos dedos dos pés. Eu simplesmente entrei em alfa e me tornei peixe. Que prazer em me deixar levar pela corrente de águas prateadas! 


Sempre lutando para obter os melhores resultados em tudo - no trabalho, nos amores, nos investimentos - a gente simplesmente se esquece do prazer que há em ser levado pela corrente da vida. Você faz planos, define estratégias para alcançar os seus objetivos, e luta com unhas e dentes para que tudo dê certo. Mas a vida parece que simplesmente não quer seguir o caminho que você traçou. Tudo dá errado, e você se desespera. Nestes casos, o melhor pode ser simplesmente se deixar levar pelo caminho de menor esforço, e usufruir dessa sensação de abandono, de falta de obrigações.


Não tem dia em que você olha pra trás em sua vida e se dá conta de que o desfecho inusitado de uma situação te trouxe muito mais satisfação do que você obteria se o desfecho programado para acontecer tivesse se realizado? A vida surpreende. Nem sempre é possível fazer a vida seguir um roteiro. Ainda bem, não? O que seria de nossas vidas sem as surpresas do destino? Um tédio, com certeza. Por isso amiga, relaxa. Bota pra tocar o disco do Zeca Pagodinho e canta comigo “Deixa a vida me levar, vida leva eu”.

Voltar

Tags: meditaçãorelaxamentobonitoflutuação

Receba os novos contos
em primeira mão