A festa do peixinho dourado
Ontem fez um frio desgraçado. Meu peixe, coitado, mal saiu do fundo do aquário. Batia as nadadeiras, abria e fechava a boca, num movimento rítmico, lento, hipnótico. Abria e fechava a boca, abria e fechava, abria... e eu ali, observando a cena com olhos sonolentos, perdida em devaneios no calor morno das cobertas.
Hoje amanheceu um dia de céu muito azul, ensolarado. Os passarinhos anunciaram a boa nova desde cedo, esperançosos, o céu ainda carregado de estrelas matutinas. Quando o sol afinal invadiu minha janela, botei o aquário no peitoril e assisti, encantada, a magia do bom tempo operar.
Aquele peixinho apático de outrora, agora faz piruetas e se embriaga de ar no oxigenador, nada em zigue-zague por todo o aquário festejando os raios de sol que se refratam na água. A felicidade é tanta! É como se cheirasse lança-perfume pelas brânquias...
Eu também anseio pela chegada da primavera, pelo coração em festa dos dias mornos e ventosos. Mas por ironia do destino e da tecnologia, amanhã passarei direto deste inverno inconstante para os dias tórridos de fim de verão. Que bons ventos me levem.