A crise imobiliária chinesa vai te pegar?
A primeira coisa que salta aos olhos, é a instabilidade da nossa economia, frente ao comportamento bem mais estável da economia americana. A segunda coisa, é o divisor de águas da economia chinesa: sempre apresentando crescimento no seu desempenho até 2007, e depois desta data, crescendo cada vez menos. Também saltam aos olhos, a crise imobiliária de 2008/2009 nos Estados Unidos e seu reflexo nas demais economias, bem como a queda do PIB de todos estes países decorrentes da pandemia em 2019/2020.
Agora só se fala na crise imobiliária chinesa, que culminou com a bancarrota do grupo Real Estate Evergrande, a incorporadora que chegou a ser declarada a maior do mundo em valor de mercado no ano 2018. Esta crise já se desenrola a dois anos, mas a raiz remonta a bem mais tempo.
Em 2006, quando estive na China já se falava nas cidades fantasmas. Cidades inteiras tinham sido construídas em algumas regiões da China, mas não havia moradores interessados em habitá-las. Seja porque o preço das moradias era muito elevado, seja porque a região não era economicamente atraente para a população se interessar por mudar-se para lá. Isso não parece um erro de cálculo gigantesco? Imagine o custo de manter uma cidade fantasma desocupada, à espera de que cidadãos se interessem por se mudar para lá. Fora os bairros inteiros das grandes cidades chinesas, como Shangai p. ex., que foram destruídos e reconstruídos mais de uma vez de modo a se ajustar aos novos padrões residenciais e a um plano diretor em perpétua mutação. A China foi tomada por uma folia imobiliária nos anos de grande crescimento econômico e agora paga o preço, com uma série de esqueletos de prédios abandonados em fase de construção e compradores que não conseguem ser ressarcidos.
O problema disto é que este preço nós pagaremos todos juntos, pois do jeito que a economia do mundo de hoje é integrada, não há como manter esta crise isolada pelas fronteiras do país. Os chineses praticamente financiam boa parte da agricultura brasileira, comprando com avanço a nossa produção para alimentar as suas 1.4 bilhão de bocas. Além disso eles importam nossa carne bovina, suína, frangos, celulose, algodão, soja, minério de ferro. O Brasil importa deles aparelhos de telefonia, motores, semicondutores, laminados de ferro e aço, plataformas de perfuração e exploração de petróleo, tecidos, peças de automóvel, aparelhos de uso doméstico e toda uma infinidade de tralha de uso diário em que já estamos viciados.
Muito se fala da crise imobiliária chinesa, mas isso não é tudo. O governo chinês foi profundamente afetado pela luta contra a covid e o gasto decorrente das campanhas de vacinação, o que deixou várias regiões da China profundamente endividadas. Nestas regiões há funcionários públicos que estão sem receber seus salários, zoológicos abandonados com as grades fechadas e cheios de animais morrendo de fome, contas públicas em atraso com os fornecedores locais. Nada disso é fake news, você vai encontrar tudinho nos sites da BBC e CNN.
E como fica o cenário político mundial, este mundinho dominado pela testosterona? Como ficam os brios dos dirigentes políticos angustiados com uma crise econômica crescente em seus países e perturbados frequentemente por um vizinho doido que se diverte em ameaçar os demais países com uma possível explosão nuclear? Cruzes, prefiro nem pensar.