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Se você se preocupa em saber quais histórias são verdadeiras e quais são ficção, lembre-se de que a história muda conforme aquele que a conta, pois todas elas sempre carregam algo de verdadeiro e muito da fantasia do escritor. Afinal, neste mundo das redes sociais, mesmo quando pretendemos estar contando a verdade sobre nós, redigimos uma ficção.

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As caturritas

Mulher esta sentada em um gramado ao lado de seu cão shiba enquanto várias caturritas se aproximam dela no ar.


Embora tenham sido minhas companheiras esporádicas nestes últimos anos, não me lembro delas na minha infância. Mas hoje, quando escuto a zoeira que elas fazem, meu peito se enche de uma alegria morna, dessas que a gente sente quando reencontra um velho amigo.

 Chegado um certo dia do ano lá no Rio, eu era acordada de manhãzinha em sobressalto pelo alarde louco que elas faziam no telhado do meu quarto. A impressão era de que os vizinhos dos prédios no entorno estavam jogando caroços no meu telhado. Na primeira vez, com o coração querendo sair pela boca, descobri atônita uma massa de plumas verdes que assustada pela minha presença, partiu revoltada e barulhenta para a árvore do terreno vizinho.

Na encosta do morro ao lado do meu prédio existe um pequeno paraíso de mata atlântica preservada onde as caturritas todo ano fazem uma pausa migratória, para descansar e recuperar as forças. Durante dias, este pedaço de mata, que no geral é calmo e apenas serve de pano de fundo para um condomínio de luxo, é resgatado pela natureza selvagem. As aves namoram, brigam, socializam e partem voando em formação ao final do dia. Ao longo dos últimos anos, no entanto, reparei que os bandos eram cada vez menores. Passei horas conjecturando com o coração frio sobre onde elas teriam ido parar.

Decifrei esse enigma quando me mudei para Porto Alegre. Aqui elas passam o inverno, se acasalam, tem filhos e ensinam eles a voar. Os ninhos são enormes e ocupam indistintamente os postes de luz e as copas das palmeiras. Todos os dias , à tardinha, indiferentes à agitação do trânsito, elas fazem uma festa nos céus.  Voam de um lado pro outro, contam e recontam as notícias do dia, os estragos do último ciclone, o número de filhotes tombado dos ninhos. Eu e minha cachorra assistimos a cena em paz, sentadas na grama do parque, com o coração em festa. Reencontrar velhos amigos é tão bom! 

 

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Tags: caturritas, bom astral, felicidade

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