A insustentável leveza do céu de Ouro Preto
Mal passa das 4h da tarde, mas a lua já se esgueira num céu azul, infinito. Encabulada e curiosa, ela deixa entrever apenas uma pequena parte da sua face redonda e clara, enquanto espia furtiva a cidade de Ouro Preto e seu povo.
Estou sentada sobre o telhado de minha casa, situado na parte alta da cidade, onde assisto preguiçosamente mais um domingo passar. Faz um calorzinho gostoso, na medida certa. O sol, muito pálido e baixo, deixa sombras alongadas, que avançam sobre as encostas dos morros.
Nos telhados das casas vizinhas, antenas de televisão se alternam com varais improvisados, erguidos na infindável luta contra o mau tempo da semana. Nas ladeiras de pedra lisas, passam ora homens com seus ouvidos grudados no radinho de pilha, ora bandos de crianças, seguidas por seus vira-latas e suas pipas. A brisa não é suficiente para manter as pipas no ar; já vi mais de uma delas cair e se enroscar nos galhos.
As igrejas, incrustadas nos pontos mais altos da cidade, zelam atentas os seus fiéis. No céu, quatro pássaros negros voam agourentos, descrevendo círculos em torno de algo que somente eles podem ver... ou pressentir. Do fundo do meu peito nasce uma angústia que toda a beleza do momento não pode aplacar.
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